Adoniran & Noel Rosa: O samba Exportação

Diney Isidoro
4 min readSep 12, 2021

O samba é uma centelha de vida na alma daqueles que extrapolam seus sentimentos, através da musicalidade e do ritmo.
Dentre os diversos nomes da música popular Brasileira, as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo exportaram esta arte para os quatro cantos do mundo.
Mas em particular, existem dois personagens caricatos que se constroem e se desconstroem dentro do seio destas grandes metrópoles e por mais incrível que pareça, ambos se conectam dentro de realidades distintas.

João Rubinato ou Adoniran Barbosa?

João Rubinato ou mais conhecido como Adoniran Barbosa, interiorano de Valinhos (SP), filho de imigrante italianos, navegou nas ondas sonoras do Rádio, ferramenta esta que lhe consolidou e caiu no gosto popular, apesar de uma rápida passagem pelo Teatro, fora com a música “Filosofia” de Noel Rosa que as oportunidades surgiram. Rapidamente se tornou um nome reconhecido nacionalmente e sua figura caricata, transmitia na alma as histórias de uma brava gente humilde que vencia as mazelas sociais da cidade de São Paulo.
Construtor de um formato de linguagem que se tornou de um dialeto não tão bem aceito pela sociedade para algo copiado posteriormente e incorporado por diversas comunidades paulistana.

Por onde anda Noel?
Noel de Medeiros Rosa ou Noel Rosa, um dos grandes nomes da música popular Brasileira, compositor da melhor qualidade, escreveu e cantou com paixão cada traço da sua valiosa Vila Isabel (RJ).
Noel Rosa, se tornou uma das grandes personalidades do seu tempo, viveu pouco (Faleceu aos 26 anos), mas eternizou versos e encantou o mundo.
Morador eterno da Boêmia, a lua era seu par predileto, entre os traços requintado das belas mulheres e as noites de serestas e serenatas.
Noel, nutriu uma paixão incondicional pelas ruas de Vila Isabel, se tornou símbolo de um morro em ascensão, a voz que externava as paixões e desamores de um povo, cantando “Coisas nossas”.
Viveu e aspirou um período “romântico’ da Capital Fluminense.

Mas afinal, o que ambos tem em comum?
Claro que muito vão responder: O Samba.
Mas na verdade a resposta mais clara seria: O Morro!
Mas como assim o Morro?

Barbosa se tornou símbolo de uma São Paulo que brigava para manter suas raízes, suas memórias, mesmo que esta cidade desejasse o progresso a todo custo, valorizando o apagamento de sua história e a celebração da evolução.
O Morro que por sua vez, abraçou e cativou as noites madrugais de Noel e se tornou a sua maior fonte de inspiração, também lhe rendeu parcerias com diversos grandes nomes da Música Popular Brasileira, se tornando a fonte nasce doura de suas obras.
Mas aqui em São Paulo, o morro fora uma falsa alusão, enquanto Adoniran, cantarolava as mazelas de uma classe baixa que lutava para sobreviver, o Morro fictício que criamos para Adoniran manter a chama de uma pseudo Boêmia acesa, ruía nas extremidades.
A Boêmia paulistana que há pouco existiu e que foi achacada pelos poderosos que entendiam que o Samba paulistano era vadiagem nos redutos e quilombos, em contra partida em solo carioca era o produto exportação para o mundo e se espalhava gradativamente com a evolução dos morros e o contato com o asfalto.
Bravamente Adoniran, se tornou um grande nome paulistano, por intermédio de seu talento e da mídia envolto dele, sendo agraciado em vida por momentos e parcerias marcantes,mas enquanto isso, em algum lugar de São Paulo nomes como Geraldo Filme, Henricão ( mesmo com sucessos já gravado e participações na extinta Tv tupi),Silvio Modesto,Talismã, Toniquinho Batuqueiro, Zeca da Casa Verde entre outros…
Ainda buscavam um holofote para que pudessem brilhar.
Ironicamente!
Apesar do sucesso espetacular do samba de Talismã gravado por Tom Zé conhecido como “Sonho Colorido de um Pintor”, o elevasse a uma classe que não conhecia o seu talento.
Pouco fora aproveitado e muito ficou na estrada, sem apreciação de uma classe pobre que tentava emergir dentro do caos financeiro que este país apontava nos idos dos anos 70/80.
A Adoniran e Noel cabe o mérito de que destacaram a suas comunidades, exaltaram os seus amores, ao samba, cabe a regalia de ter em destaque, duas almas plurais e controversas que escreveram a sua história conforme manda o figurino.
E a nós caro leitores, segue apreciar a obra não somente de Adoniran ou Noel, mas destes que também foram esquecidos por nossa sociedade, mas que elevam o samba como produto exportação.
Viva Adoniran, Viva Geraldo Filme, Viva Henricão, Viva Noel,Viva Silvio Modesto, Viva Talismã, Viva Toniquinho Batuqueiro, Viva Zeca da Casa Verde, Viva para um samba exportação, pouco falado mais ainda resistente aqueles que desejam esquece-lo.

“Se o Leão não contar as suas histórias, a glória vai sempre para o Caçador”
Provérbio Africano

Até a próxima.

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Diney Isidoro

Colunista,Escritor,Jornalista,Pesquisador, Sambista e um bocado de coisas na vida.